Un dels moments més interessants i sorprenents del darrer viatge a Lisboa va ser la visita a la
casa de fados que ha nascut al barri da Mouraria, al Largo da Severa nº 2, a la casa on la tradició diu que va viure la mítica fadista "A Severa".
Aquest nou espai fadista, nascut amb la col·laboració de la Câmara
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La fadista Carla Arruda, presideix
un dels carrers del barri |
Municipal de Lisboa, el Museu do Fado i fadistes com Helder Moutinho, pretén ser un espai per a tertúlies fadistes, exibició de films, i "fadistices vàries".
La nit que hi vaig anar, en Ricardo Rocha hi tocava, i un fadista -que més tard vaig saber que es diu Francisco- va recitar el Fado
Falado de João Villaret.
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Un moment de Fado... |
Imperdonable per part meva no haver tingut a punt l'estri per filmar-lo. No l'havia escoltat mai en directe, i em sap greu no tenir aquest moment guardat per poder portar-lo aqui. Només puc dir: Parabéns Francisco.
A canvi d'això deixem aqui aquesta versió de José Raposo que he trobat a la xarxa, i l'original de João Villaret.
És -com diu el propi poema, Uma história bem singela...... El fado ens conta i ens canta històries, i a vegades ens les parla.....
Nelson de Barros / Aníbal Nazaré / A. Barbosa
Repertório de João Vilarett
Fado Triste, fado
negro das vielas
Onde a noite quando
passa leva mais tempo a passar
Ouve-se a voz, voz
inspirada de uma raça
Que mundo fora nos
levou pelo azul do mar:
Se o fado se canta e
chora, também se pode falar
Mãos doloridas na
guitarra que desgarra dor bizarra
Mãos insofridas, mãos
plangentes
Mãos frementes,
impacientes
Mãos desoladas e
sombrias, desgraçadas, doentias
Onde há traição, ciúme
e morte, e um coração a bater forte
Uma história bem
singela: bairro antigo, uma viela
Um marinheiro gingão e
a Emília cigarreira
Que ainda tinha mais
virtude que a própria Rosa Maria
Em dia de procissão da
Senhora da Saúde
Os beijos que ele lhe
dava, trazia-os ele de longe
Trazia-os ele do
mar... eram bravios e salgados
E ao regressar à
tardinha
O mulherio tagarela de
todo o bairro de Alfama
Cochichava em
segredinho que os sapatos dele e dela
Dormiam muito
juntinhos debaixo da mesma cama
Pela janela da Emília
entrava a lua
E a guitarra á esquina
de uma rua gemia, dolente a soluçar
E lá em casa:
Mãos amorosas na
guitarra que desgarra dor bizarra
Mãos frementes de
desejo, impacientes como um beijo
Mãos de fado, de
pecado, a guitarra a afagar
Como um corpo de
mulher para o despir e para o beijar
Mas um dia:
Mas um dia santo Deus,
ele não veio
Ela espera olhando a
lua, meu Deus que sofrer aquele
O luar bate nas casas,
o luar bate na rua mas não marca
Mas não marca a sombra
dele
Procurou como doida e
ao voltar da esquina
Viu ele acompanhado
com outra ao lado, de braço dado
Gingão, feliz, rufião,
um ar fadista e bizarro
Um cravo atrás da
orelha
E preso à boca
vermelha o que resta de um cigarro
Lume e cinza na
viela... ela vê, que homem aquele
O lume no peito
dela... a cinza no olhar dele
E pouco a pouco o
ciúme chegou
Como lume queimou o
seu peito a sangrar
Foi como vento que
veio labareda atear, a fogueira aumentar
Foi a visão infernal,
a imagem do mal que no bairro surgiu
Foi o amor que jurou,
que jurou e mentiu
Correm vertigens num
grito direito ao maldito que a há-de perder
Puxa a navalha
canalha, não há quem te valha, tu tens de morrer
Há alarido na viela,
que mulher aquela, que paixão a sua
E cai um corpo
sangrando nas pedras da rua
Mãos carinhosas,
generosas que não conhecem o rancor
Mãos que o fado
compreendem e entendem sua dor
Mãos que não mentem
quando sentem outras mãos para acarinhar
Mãos que brigam, que
castigam, mas que sabem perdoar
E pouco a pouco o amor
regressou
Como lume queimou
essas bocas febris
Foi um amor que voltou
e a desgraça trocou para ser mais feliz
Foi uma luz renascida,
um sonho, uma vida de novo a surgir
Foi um amor que
voltou, que voltou a sorrir
Há gargalhadas no ar e
o sol a vibrar, tem gritos de cor
Há alegria na viela, e
em cada janela renasce uma flor
Veio o perdão e
depois, felizes os dois... lá vão lado a lado
E digam lá se pode ou
não falar-se o fado.