Rui Veloso |
Outro clássico do fado, este poema vem do mundo do rock, da mão do genial Rui Veloso. Umas pinceladas só para nós recordarmos quem é este "rocker" que pôs língua portuguesa a este fenómeno que é o rock.
Veloso nasceu em Lisboa, mas foi para o Porto antes de completar um ano. Autodidacta com a viola, forma un grupo e aos 19 anos grava uma maqueta que sua mãe -sempre as mães- leva para a editora Valentim de Carvalho, que, depois de ouvi-lo, contrata-o logo.
O êxito vem imediatamente e faz com que em Portugal apareçam uma grande quantidade de bandas de rock -como aconteceu também na Catalunha com a aparição de grupos como Sau, ou Sopa de cabra- e é por isso que Rui é conhecido como o pai do rock português. Embora não fosse o primeiro a cantar rock em Portugal foi ele quem conseguiu um maior impacto junto da juventude.
O tema que dá título a este artigo situa-se entre o rock lento e a balada, com um leve toque de fado. Dá para ser cantado em estilos diversos, e tem a graça infinita, na minha opinião, de ser um tema que só podia ser criado por um português, por alguém que leva o fado muito lá dentro.
É balada, sim, mas esse toque "afadistado" fez com que os fadistas também a cantassem. Nuno da Câmara Pereira, José Manuel Barreto e até a fadista portuense Sandra Correia, cantam este fado, cada um no seu próprio estilo, mostrando a quem quiser vê-lo aquilo do que o fado é capaz. Ou talvez o que está a mostrar é que o fado está presente na alma dos músicos portugueses mesmo sem eles se aperceberem.
A letra de este fado descreve-nos a paixão, aquilo de que somos capaces de fazer por amor, se calha até roubar, para que a pessoa amada esteja linda. Dizemos às gentes: "Olhem como ela é linda, é a minha namorada!"
Fado Do Ladrão Enamorado
Vê se pões a gargantilhaPorque amanhã é domingo
E eu quero que o povo note
A maneira como brilha
No bico do teu decote
E se alguém perguntar
Dizes que eu a comprei
Ninguém precisa saber
Que foi por ti que a roubei
E se alguém desconfiar
Porque não tenho um tostão
Dizes que é uma vulgar
Joia de imitação
Nunca fui grande ladrão
Nunca dei golpe perfeito
Acho que foi a paixão
Que me aguçou o jeito
Por isso põe a gargantilha
Porque amanhã é domingo
E eu quero que o povo note
A maneira como brilha
No bico do teu decote
Rui Veloso e sua banda...
Zé Manuel Barreto
Nuno de Câmara Pereira
Sandra Correia