dilluns, 16 de maig del 2022

De nou aquí

 

De nou aquí després de tants mesos sense escriure res en aquest cantinho de Fado. No ha estat per falta de ganes, però si de temps i de tranquil·litat per poder dedicar-me a aquest assumpte que m'agrada ... el Fado


I volia, des de fa molt de temps,  parlar d'aquesta petita meravella que és  aquesta Comèdia Musical titulada "O Julgamento do Chico de Cachené"
N'havia sentit a parlar molt l'any 2012 quan es va reposar a l'escenari aquesta peça teatral que es remunta al 1945 quan Linhares Barbosa, i aqui podeu llegir la història, va compondre aquest "auto poético fadista" 
Bé, al mes d'abril de 2012 és va tornar a portar als escenaris amb aquest cartell que tenim a l'esquerra, i jo m'ho vaig perdre... Aquell any també vaig visitar Lisboa, però un mes abans!

Ara i gràcies a FadoTV i a l'amic José Fernández Castro  que dirigeig el blog Fadosdofado disposem d'imatges i de les lletres originals de la peça. Lògicament per la reestrena del 2012 hi ha presentacions i lletres que s'han hagut de modificar per adaptar-les als temps actuals i als protagonistes de l'obra.

Així doncs, veiem el vídeo i seguim les extraodinàries lletres del Mestre Linhares Barbosa, i la magnífica representació que ens ofereixen els cinc valents que ens han fet reviure allò que no vam viure, però de les que en sentíem Saudades. És el que té la Saudade, la sentim fins i tot d'allò que no hem viscut.




O Julgamento do Chico do Cachené espectáculo completo "Comédia Músical em Fado"



Després de la presentació cantada i adaptada als temps de Daniel Gouveia, comença la representació.

QUEM É O CHICO DO CACHENÉ   (corrido em Re)

O "Chico do Cachené"
Tem sempre um grãozinho n’asa
É o Faia mais fadista
Que "habita" na minha casa


Com ele nunca houve tricas / Nem intrigas, nem sarilhos
Gostam dele, e os meus dois filhos / Tanto o Licas como o Tricas
Dizem que amou certa Micas / Que poucos sabem quem é 
E que ela passou o pé / Deixando quase no esquife
Num quarto do "Bairro Bife"
O "Chico do Cachené"


Sempre mãos nas algibeiras / Sorriso sempre na "lata"
Na boca sempre a beata / P'ra lhe dar "tic" às maneiras
Atira-se às cantadeiras / E já marcou entrevista
A certa mulher bairrista / Que a altas horas lá cai
Quem for com ele mal não vai
É o Faia mais Fadista

Dizem que aquele chapéu / Que o cachené e a tralha
E que também a medalha / Foi a Micas que lhe deu
Dês' que ela desapareceu / P'ra se atolar mais na vasa
No peito dele, uma brasa / Abrasa-lhe o coração
Pobre Faia. Desde então
Tem sempre um grãozinho n’asa

Outro dia, um badameco / Armou por lá uma cena
Lá porque a sua pequena / Estava a olhar p'ra o boneco"
Ele olhou o "Papo Seco" / E nisto, o "pipi" foi d'asa
Com ele ninguém faz vasa / E ainda mais o admiro
Porque é o tipo mais "giro"
Que "habita" na minha casa


O CHICO DO CACHENÉ  (Fado Helena)


Certa vez, foi à noitinha / 
O Chico do Cachené
Chamou-me e disse: «Farinha
Vou contar-te a vida minha / 
Para saberes como é

Bem criado e mal fadado / Os meus pais tinham de seu
Por eles era adorado 
Instruído e educado / Cheguei a andar no liceu

Ao estudo tomei horror / Era p’ra mim um suplício
Deixei aula e professor: / Fui p’ra aprendiz de impressor
Para uma casa do ofício

Eu era menino e moço / Simples como uma donzela
’Té que um dia – que alvoroço / Fui à Travessa do Poço
Vi a Micas, gostei dela

A casa não voltei mais / Meus pais tiveram desgosto
Calcula: deixei meus pais 
Preso nos olhos fatais / Que a Micas tinha no rosto

Com ela aprendi o Fado / O Fado a que te dedicas
Mas sempre, sempre empregado
Que, p’ra mim, era um pecado / iver à custa da Micas

Vivi assim alguns anos / Quatro vezes lhe pus casa
Mas o seus olhos tiranos
Vadios como dois ciganos / Fugiam, batiam asa

Muita vez a fui buscar / Às ruas do outro «fado»
Um dia, p’ra não voltar
Fugiu... É que o seu olhar / Tinha que ser desgraçado

Hoje não tenho um afago / Um carinho, uma afeição
Sou um esquecido, mal pago
É no vinho que eu apago / O fogo desta paixão

Depois de contar-me a vida / O Chico pôs-se de pé
Pediu mais uma bebida
E uma lágrima atrevida / Caiu-lhe no cachené


A MICAS ERA UMA JÓIA (Fado Marcha Manuel Marias)

Todos cantam a odisseia / Do Chico, com simpatia
Mas ninguém diz que, ao velhaco
Quando estava na cadeia / Era a Micas quem lá ia
levar onças de tabaco

Não vivia à custa dela / Não fazia dela escrava
Louvo-lhe esses sentimentos
Mas muita, muita farpela / Era a Micas que a comprava
Numa loja, a pagamentos

A Micas era uma jóia / Leviana, sim, talvez
No fundo, uma desgraçada
Certa vez, numa rambóia / Por nada que ela lhe fez
Ele moeu-a à pancada

Resultou, dessa tareia /  da forma de a agredir
O ser preso... e até se diz:
Só esteve um mês na cadeia / Porque a Micas foi pedir
por ele, ao Doutor Juiz

Também se deu um sarilho / uito grande, entre ela e ele:
A mãe dela mo contou 
A Micas tivera um filho / Um filhinho que era dele
E que ele não perfilhou

Não vim para a defender / Nem levantar-lhe degrau
No trono das desgraçadas
Mas costuma-se dizer / Que quando cachorro é mau
Todos lhe atiram pedradas


BÊBADO, BATOTEIRO E DESORDEIRO (Fado Corrido em Fa)


Ele ganhava um quartinho
Era sempre o que ganhava
Mas gastava tudo em vinho!
E às vezes não lhe chegava


Conheci-o, meus senhores / De "setenta", de "ginjeira"
Numa banca pataqueira / Ali p'ra os Restauradores
Como tod'os jogadores / Andava sempre a caminho
Da tavolagem, p'ro "pinho" / Sempre a pedir emprestado
Mas não era precisado
Ele ganhava um quartinho

Entrou na Dança da Bica / Lembro-me, era eu criança
Fez com que acabasse a dança / E foi parar à Botica
Uma outra vez, em Benfica / Em que o Brito improvisava
Ameaçou quem lá estava / E desafiou uns poucos
Por fim, apanhou dois socos
Era sempre o que ganhava

A Micas gostava dele / Chamava-lhe o "seu menino"
Sei que lhe deu um varino / Com uma gola de pele
Deu-lhe um relógio, um anel / 'Té o próprio "pianinho"
Em que tocava o fadinho / Ela lho dera também
O Chico ganhava bem
Mas gastava tudo em vinho

O "Chico do Cachené" / É tatuado no peito
Prestou-se a isso o sujeito / Quando esteve em S. José
Se isto é verdade, ou não é / Não sei: era o que constava
A "massa" que lhe emprestava / O Samuel agiota
Era toda pr'à batota
E às vezes, não lhe chegava


AS MÁS COMPANHIAS (Fado Vianinha)


O Chico fez tropelias
E deu aborrecimentos
Só devido às companhias
E não aos seus sentimentos


Cantava o Fado, era faia / Bebia, jogava à chapa
Mas sempre vestia capa / Pelo círio da Atalaia
A Micas era da laia / Das que fazem judiarias
Duma vez andou dez dias / Afastada do cortiço
Como não gostava disso
O Chico fez tropelias

Certa vez que o Chico foi / Às toirinhas em Palmela
Era ouvir o grito dela / O meu Chico hoje é um boi
Sou mulher, Deus me perdoe / Que este e outros argumentos
Venham a ser elementos / P’ra quem o Chico processa
A Micas era má peça
E deu aborrecimentos

Numa certa terça-feira / Foram ambos para a esquadra
Porque na Feira da Ladra / Ela armou em desordeira
Fora que a Júlia Cesteira / Adela nas Olarias
E dava ali os «bons-dias» / Pisou a saia da Micas
O Chico meteu-se em tricas
Só devido às companhias

Outra vez, p’lo Carnaval / Foram ao baile à Trindade
Pois diga-se à puridade / Que ambos não dançavam mal
Um guarda municipal / Disse dois atrevimentos
O Chico deu-lhe dois «tentos» / E tudo isto presume
Que levou tudo ao ciúme
E não aos seus sentimentos


BOÉMIO, VALENTE E ARTISTA (Fado Mouraria)

Vingava a honra ofendida
Tinha uma alma altruísta
Antes do Fado ser Arte
Já a Chico era um Artista


Certo "Amigo de Peniche” / Que ele julgava uma jóia
Viu-o ele de tipóia / Com a Micas, em Carriche
Viu-os, aguentou-se fixe / Mas não gostou da partida
Depois, 'spancou a atrevida / E o amigo de má-fé
Era assim o «Cachené»
Vingava a honra ofendida

Teve amigos verdadeiros / Escritores e doutores
Tu cá, tu lá, com actores / Tu lá, tu cá, com toureiros
Deu-se até com Conselheiros / E com muito Jornalista
Foi o melhor "Cancanista" / Do Baile dos Quintalinhos
E, entre vários pergaminhos
Tinha uma alma altruísta

Em noites de S. João / Passava noites inteiras
Dançando valsas rasteiras / Mazurcas, Polca a Tacão
Palhinhas e jaquetão / Calça branca, ou de zuarte
Nas feiras, por toda a parte / Com titulares, com ciganos
Passou-se isto há trinta anos
Antes do Fado ser Arte

Jogava o Pau e à Espada / Em qualquer jogo, era rijo
Uma tarde, no Montijo / Varreu a Vila à paulada
Em muita espera e toirada / Deixou a perder de vista
Muito forcado burlista / E, nos sectores da "Canção"
'Inda não davam cartão
Já o Chico era um Artista


SENTENÇA (Fado Carlos da Maia sextilhas)

O Chico do Cachené / Já todos sabem quem é
É um boneco inocente
Sem gestos, sem atitudes / Sem defeitos, sem virtudes
Um boneco, simplesmente

Concebido e modelado / P’la nossa imaginação
Com barro de fantasia
É um sopro do passado / Um pouco de tradição
De sonho e de poesia

Criámo-lo à nossa imagem / Com mais ou menos verdade
Somos os seus criadores
Rendemos-lhe vassalagem / Porque fala de saudade
E até dos nossos amores

Pretendemo-lo julgar / Vimos que ele era, porém
Filho do meio ambiente
E que era um caso vulgar / Era um tudo de ninguém
Um nada de toda a gente

Ninguém com certeza ignora / Que estivemos evocando
A tradição, o passado
Bendita esta «Boa-Hora» / Onde estivemos brincando
Com as guitarras e o Fado

Não se provou a má fé / Nos pecados do arguido
Que as paixões não nos iludam
O Chico do Cachené / Está, portanto, absolvido
«Leis do Fado não se mudam»


Linhares Barbosa ainda escreveu mais uma letra sobre o «Chico do Cachené»
para o cartaz que anunciava a representação de 1948 no Café Luso, intitulada 
"Alguns Comentários" onde fazia a apresentação do elenco e onde se vê
que alguns dos fadistas e instrumentistas da primeira representação 
foram substituídos:


LEIS DO FADO NÃO SE MUDAM 
(Bocage)

O Chico, mais uma vez
Foi preso e vai ser julgado
«Leis do Fado não se mudam»
Reza um antigo ditado


Cumprindo das leis o uso / O Chico vai a Juízo
Porque o juízo é preciso / E o Chico ao juízo é escuso
Vai ser julgado no «Luso» / Lá para o fim deste mês
Será punido?... Talvez! / Esperemos que a Justiça fale
Enfim, vai a tribunal
O Chico, mais uma vez

Já anda metendo cunhas / Para não ser condenado
Mas não leva um advogado / Um daqueles que tem «unhas»
Conhecem-se a testemunhas / É tudo gente do Fado
Vai a Lourdes do Machado / O Farinha, o Gabino
Pobre faia!... É o destino!
Foi preso e vai ser julgado

Vai o Jacinto Pereira / Que o deseja ver na montra
E também vai depor contra / A Natália, a galinheira
A Márcia, outra cantadeira / Vai pedir que ao Chico acudam
Mas estas coisas não grudam / Nem convencem os jurados
O Chico tem seus pecados.
«Leis do Fado não se mudam»

Sempre metido na «Adega / Do Machado», o infeliz
Comia e bebia a «giz» / E apanhava a sua cega
O Flávio, este não sossega / O Amando anda enervado
O Nery, vai estar ao lado / Do Chico do Cachené
O que nos salva é a Fé
Reza um antigo ditado

 Aquest  és la introducció de l'obra en la versió de 1945. 


També i amb música final sentim una desgarrada amb música de Pedro Rodrigues, amb uns versos de cada un tels temes que hem escoltat abans.

Espero que qui passi per aqui, la disfruti com jo faig cada cop que l'escolto.